CELEBRAR AMÁLIA NO SEU CENTENÁRIO E SEMPRE!
Celebramos o centenário do nascimento de Amália, personalidade que merece homenageens pelo que representa na cultura e música portuguesas. Se as pessoas são as suas circunstâncias, a excecionalidade de Amália ultrapassou as circuntâncis em que nasceu e engrandeceu-nos a todos nós.
Amália ultrapassou as nossas fronteiras e as da língua portuguesa, mas o feito maior terá sido trazer novas respirações, novos mundos ao fado, numa interpretação original e absoluta, de tal forma que se continua hoje a procurar gravações da fadista - os nossos parabéns ao projeto liderado por Frederico Santiago, que visa resgatar dos arquivos essas interpretações plenas de cor e brilho solar - .
Escutar Amália é sempre inspirador e traz-nos novas rotas.
É isso que celebramos neste centenário; a individualidade artística, irrepetível, de Amália! O que a diva reiventou, tendo conseguido levar o fado dos “acanhados” retiros para os grandes palcos sem o atraiçoar, porque o quando Amália canta o Pedro Rodrigues ou o Primavera, no Bobino de Paris ou no Town Hall, em Nova Iorque, é o fado no esplendor de uma voz que a ele se entrega em pleno.
Talvez porque nela encerra o que referenciamos ao fado, nostalgia, solidão, estranheza e paixão, como Amália o afirmou ela era o “prato forte do fado”, só não explicou como tudo isto se recriou em si, tornando-a, definitivamente, um padrão pelo qual todos se aferem, sem favor.
O fado na sua voz tornou-se um canto universal, muito antes de se ter tornado património da humanidade. Argentinos, franceses, japoneses, russos ou norte-americanos já se tinham rendido a este canto nascido em Lisboa, com todas as referências de uma cidade onde se acotelavam tradições longínquas e antigas. É também todo este passado dramático que ressoa nas interpretações de Amália, sem peso de pecado ou culpa.
Uma voz que veio dos princípios dos tempos, qual uma manhã clara, sem peias, uma nova aurora .
Amália inovou, trouxe um canto renovado que nos motivou e nos emanou, a ponto de se ter confundido com a portugalidade. Quando estamos sempre na demanda de um graal da nossa identidade, adotámo-la, não sem razão; a sua interpretação remete-nos para uma salinidade marítima e tem o talhe das pedras, numa solenidade quase religiosa.
É AMÁLIA e está tudo dito, uma interpretação plena de imaginação, cor e brilho, num contraste com os vestidos pretos que tanto usou.
Parabéns Amália e obrigado!
Pedro Almeida